Circulam por aí umas teses, com inegáveis méritos, de que o PSD deveria chumbar o Orçamento de Estado. Quem as defende pretende uma ruptura com o passado. Sucede que para que tal ruptura possa ser um argumento de análise a ponderar impõe-se que, por um lado, o PSD apresente um programa de ruptura, coisa que já poderia ter feito e que deseperadamente espero que faça antes ou durante a discussão do Orçamento de Estado e, por outro lado, que não se chegue ao ponto em que as instituições internacionais tenham de intervir no país.
Se o PSD não apresentar um programa de ruptura (ainda que por etapas) antes ou durante a discussão do orçamento e caso opte por chumbá-lo, quando é que terá ocasião para apresentar tal programa de ruptura? daqui a cerca de um ano, na altura da campanha eleitoral e contra as medidas acordadas pelo PS com a UE e o FMI? Que credibilidade poderá ter o PSD se não responder ao desafio do Ministro das Finanças para apresentar cortes de despesa alternativos aos aumentos de impostos propostos?
Se se der o caso de as instâncias internacionais terem de entrar no país, expliquem-me que medidas poderá o PSD apresentar daqui a 1 ano que sejam diferentes e se afastem das medidas acordadas pelo PS com aquelas instâncias?
Faz bem o PSD em pressionar o Governo a negociar mas, se este, tal como me parece ser uma evidência, mantiver o interesse em não ver aprovado o seu Orçamento, creio que não haverá muitas outras alternativas para o PSD se não zurzir na proposta de Orçamento de Estado, apresentar as suas alternativas e, por fim, abster-se. Isto para que, quando chegar a sua vez, possa efectivamente proceder a uma inversão no rumo do país.