segunda-feira, 29 de março de 2010

O vendedor da feira

Estava a dar uma vista de olhos ao Procedimento dos Défices Excessivos (olha que ele há nomes bem engendrados) e recordei-me, com uma certa nostalgia, das feiras a que tinha oportunidade de ir, nos meus tempos de infância em Trás-os-Montes. Não sei se se recordam da voz do vendedor de cobertores, que dizia, ao microfone pendurado ao pescoço e embrulhado num lenço: "Não leva 1, nem 2, nem 3, mas 5 cobertores pelo preço de 1. É aproveitar...".

Pois o défice de 2009 não foi 5,6%, nem 8%, nem 9,3%, mas 9,4% do PIB! E em 2008, não foi 2,6%, nem 2,7%, mas 2,8% do PIB!

E como será em 2010? Será 8,3%? Não culpem o INE, que a nota diz claramente que a estimativa para 2010 é de responsabilidade do Ministério das Finanças.

Quanto ao défice propriamente dito, ainda estou a ver se descubro como é que se gastaram 15,4 mil milhões de euros. Já sei que, grosso modo, há um agravamento de 1000 milhões na segurança social, 700 na Administração Local e 300 no Investimento. E cerca de 4.000 milhões resultam da perda de receitas. O resto são "peanuts" certamente...

quinta-feira, 25 de março de 2010

Estupidez II

Não sei se é anterior ou posterior à aprovação da resolução de apoio ao PEC no parlamento, mas esta notícia parece confirmar que a realidade sempre vai repetir a história e chamar-nos, agora a todos nós, de estúpidos: ainda não foi implementado o PEC 1 e em breve estaremos a discutir o PEC 2 ... espera-se que com outro tipo de oposição.

A Direcção do PSD e a herança

Ao contrário do que pensa muita gente no PSD, creio que esta direcção do PSD teve um mérito que foi credibilizar, ou pelo menos tentou, o partido e sobretudo a política. A evolução económica deste governo provam que o PSD não foi a eleições apenas com promessas vãs!
Num período onde o governo PS esteve próximo de cair, acho totalmente insensato que a direcção se tenha mantido por cerca de 6 meses com a promessa de sair. Agravou os problemas do país ao colocar o maior partido da oposição totalmente impreparado para ir a eleições.
Num momento em que dois candidatos, e aos que apontam as sondagens os dois mais bem colocados, já afirmaram que votariam contra o PEC, parece-me totalmente insensato que a actual direcção condicione o futuro do partido votando de modo distinto desta tendência maioritária. E por muito que o partido do governo apele à responsabilidade, acho que é muito mais irresponsável não ter querido adiar esta votação dois dias apenas!

Estupidez

Sabendo tudo o que havia para saber, o Governo e o PS optaram por apresentar o Orçamento de Estado que apresentaram: um brutal crescimento da despesa e do endividamento públicos. Excitados com o fim do capitalismo e com o regresso ao socialismo e a uma economia mais dirigida, recusaram-se a ver o que verdadeiramente estava aí: um Estado e um gasto público insustentáveis e o inevitável fim do período de carência dos empréstimos feitos. O Governo e o PS exigiram, então, sentido de responsabilidade à oposição para aprovar ou deixar passar aquela manifesta estupidez. O que foi feito. Agora que a realidade, ela própria, passados poucos dias, decidiu chamá-los de estúpidos, vêm pedir novamente à oposição sentido de responsabilidade: o sentido de responsabilidade de permitirem que os estúpidos, eles próprios e mais ninguém, corrijam como bem entenderem a sua estúpidez.
Não sei se a história se repete, mas suspeito que a realidade repita a história e que nos chame, agora a todos nós, de estúpidos.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Casa onde não há pão...

Faltando o pão, como falta e como faltará mais ainda, significa que vamos todos ralhar uns com os outros. A natureza e o grau dos sacrifícios que se impõem são de molde a fazer descarrilar a nossa tendencial acomodação aos destemperos de quem manda. Impunha-se portanto, numa altura destas, uma quase frenética actuação por parte do governo na identificação e eliminação das situações de injustiça relativa e abuso que grassam no país. Fazer passar a mensagem de que se está a acabar com o abuso e o excesso, para todos, é a única forma de assegurar um mínimo de tolerância e de razão por parte dos contribuintes para o que aí vem. Manter gastos esdrúxulos como a RTP, não mexer na política de prémios em empresas públicas monopolistas, permitir vencimentos injustificados como o do Governador do Banco de Portugal, não ajudam à festa. Também não facilita que se permita e aplauda aparentes paradoxos como este. Não há exemplo, não há firmeza, não há justiça: este PEC não assegura mínimos olímpicos.

O FNV e o novo partido

O FNV escreve aqui e aqui.

"Se o PSD é, como dizem, genuinamente português, então o PSD, como o conhecemos, terá de se transformar"

"O PSD actual poderá ficar com os sindicatos de voto das distritais e com os feudos autárquicos. O novo partido reunirá a linguagem culta e elitista. Sem receio das palavras e, muito menos, sem se engasgar com os conceitos"

"A verdadeira ruptura seria , por exemplo, não ter nenhuma organização de juventude e nenhum tipo de favo vagamente semelhante às agências de empregos que são as distritais e as concelhias. O verdadeiro trabalho político dispensa essa tralha, que a clandestinidade também dispensou no passado e as tecnologias de informação dispensam hoje."

"O que temos é um eleitorado jovem e urbano, tecnicamente complacente com a velha ordem , mas raivoso. Observamos com rigorosa frequência um voto de sobrevivência, ou de despeito, raramente de confiança.
Um novo partido teria de apresentar uma cinética harmonizada com os mecanismos de stasis actuais. Por exemplo, em vez de concelhias ou de distritais: núcleos em univesidades, em grandes empresas, em redes de organizações não-governamentais, em organizações celulares ( forças de segurança, Igreja, etc), em suportes virtuais ( blogues, facebook, etc)."

Acrescentaria apenas: espero que o protagonismo seja do PSD (ou de parte dele), porque se não for, de alguém será...

Análise sobre as análises ao debate na RTP

A melhor análise sobre as análise ao debate dos candidatos na RTP é esta.

Sócrates... visto por fora

sexta-feira, 19 de março de 2010

Um Grego, um Alemão, um Português e a Consciência da “Crise”...

Recentemente estive em família no coração da Europa, em Aachen, Alemanha, antiga Aix-la-Chapelle, onde Carlos Magno foi coroado. Por felizes circunstâncias familiares “adquiri” dois primos, um diplomata grego e um engenheiro alemão.

Em passeios pela neve abordamos o tema comum, a “crise”. O diplomata grego disse-me que na Grécia já se estava a sentir verdadeiramente a “crise” e já lhe tinham reduzido substancialmente o seu ordenado, na componente variável de ajudas de custo, ou seja, já “lhe tido ido ao bolso”... O engenheiro alemão, apesar de não sentir a “crise” tão directamente, já a antecipava, referindo que no seu orçamento familiar já estava prevista a redução de rendimentos em pelo menos 20%, controlando os custos e o endividamento futuro.

Entre o grego, que já sofre directamente a "crise", (e não estamos a falar apenas dos desempregados, mas de toda a população, onde se integram os “empregados”), e o alemão que já a antecipa, onde fica o português?

Será que a população portuguesa, governantes e governados, já tem consciência da dimensão da “crise”?

E se existe, a “crise” é conjuntural passageira ou estrutural?

O engenheiro alemão desenvolve, num dos centros de tecnologia automóvel da Alemanha, os modelos dos futuros automóveis, especialmente para o mercado chinês e indiano (incluindo o Tata Nano). O que me impressiona na consciência e pragmatimo dos alemães, é estes reconhecerem que estão a transmitir abertamente o know-how tecnológico à China e que será inevitável um “emagrecimento” dos seus rendimentos, para os quais já se estão a preparar. E concerteza que já estarão a planear cuidadosamente um novo "renascimento" alemão.

Ou seja, mais do que explicações conjunturais passageiras para se desculparem e esperarem passivamente a retoma (wishful thinking), os alemães já sabem que a "crise" mais importante é a estrutural, pela inexorabilidade da globalização.

O que me preocupa especialmente neste momento é se os nossos governantes e os governados têm consciência real da "crise" estrutural e estão preparados para tomar as duras medidas da reforma.

O primeiro passo da recuperação de um toxicodependente ou alcoólico é a ACEITAÇÃO da sua realidade. O segundo passo é a VONTADE de agir, mesmo que no início lhe seja muito difícil.

Onde há crise há esperança!

A globalização, mais do que uma ameaça, é uma enorme oportunidade.
Acredito que é nos momentos de maior crise, que se dão as maiores transformações.
Assim tem acontecido na história.
É nesses momentos que surge uma nova geração de líderes e a população se prepara para a mudança.*

* caso contrário "vamo-nos ver gregos”...

É justo.

A primeira sondagem circunscrita a militantes do PSD dá uma vantagem clara a Pedro Passos Coelho, com 51% de intenções de voto, seguido de Paulo Rangel. com 31% Quanto a José Pedro Aguiar Branco (de quem sou apoiante) fica-se por uns quase residuais 8%.

Não penso que Passos Coelho seja a melhor solução para o PSD, mas também há que reconhecer que, em certo sentido e pela campanha profissional que tem vindo a fazer, "merece" estar em vantagem.

Paulo Rangel tem revelado a sua já reconhecida capacidade oratória, mas quanto a conteúdo das suas propostas e ideias, tem deixado muito a desejar. Tem-se revelado inclusive mal preparado para as suas intervenções públicas, como nota o João Miranda.

Quanto a José Pedro Aguiar Branco, o candidato que considero ter maiores qualidade pessoais e com cujos princípios mais me identifico tem andado um pouco desaparecido, pelo que não é de estranhar o fraco resultado que apresenta, tornando-se a cada dia que passa cada vez mais "vítima" do voto útil dos que não desejam que Passos Coelho seja o próximo lider do PSD.

segunda-feira, 15 de março de 2010

A Política (na sua mais nobre função), será salva, por quem esteja plenamente na política, mas não se pareça nada com os “políticos”.

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Sou um “neófito” na política. Vejo a política como uma arte nobre de serviço à comunidade.

Quando comentei em amigos que iria assistir ao Congresso do PSD no Sábado 13 Março, recebi entre outras, estas duas respostas antagónicas, (literal):

A. “ - No congresso do PSD???? Estás louco ou andas metido no tráfico de influências?”

B. “- Ainda ontem em conversa , dizíamos que é muito mais fácil criticar do que FAZER. Já nem digo fazer BEM FEITO (que isso ainda é mais difícil) mas simplesmente tomar a iniciativa, assumir a responsabilidade. Felicito a tua iniciativa e assumo o meu interesse num maior envolvimento futuro (apesar da minha ignorância). E julgo também que o PSD poderá ser o melhor meio para atingir o fim.”

No Congresso, pude observar como é ténue a fronteira entre o interesse dissimulado, a vaidade pelo exercíco da retórica e do poder, e o serviço altruísta e dedicado da verdadeira política, pelo qual tenho um enorme respeito.

Alhear-me, ou alhear-mo-nos, é fácil, basta criticar.

No decurso do dia de Sábado do Congresso, houve um pouco de tudo, e uma dinâmica notável pelas melhores e piores razões... Mas o discurso que mais me seduziu foi o de Fernando Costa, Presidente da Câmara das Caldas da Rainha. Pela sua coragem, sem medo, a dizer o que pensava. A ir contra o “políticamente correcto”, por ser genuíno. Até o seu “tique” de afagar o cabelo lhe dava credibilidade. A beleza da democracia está quando quem a vive próximo dos cidadãos e dos militantes de base, tem acesso ao púlpito e fala por estes. Foi o seu discurso e a sua forma, que mais me deu alento para acreditar que a política vale a pena.

Recordo um frase de MAURIAC: “- O Mundo será salvo por quem esteja plenamente no mundo, mas não se pareça nada com ele”.

E eu adaptaria: - A Política (na sua mais nobre função), será salva, por quem esteja plenamente na política, mas não se pareça nada com os “políticos”!.


Estamos num momento difícil, que me faz recordar a crise de 1980-85. Tinha 10 anos quando Sá Carneiro morreu e jamais esquecerei a tristeza e o quebrar de um sonho que crescia. Havia políticos com verdadeiro sentido de estado, preparação e dedicação. Vivi o “apertar do cinto”na minha família e assisti ao renascimento com Cavaco Silva em 1985 e aos 10 anos de prosperidade que se seguiram. Depois tivemos 15 anos de “aburgesamento” da política e da sociedade civil, e caminhámos cegamente para o estado actual. Quem devia, alheou-se da política, e esta foi “tomada” pelos que dela se servem, “abafando” os poucos que ainda mantêm o espírito de serviço.

Por tudo isto, identifico-me particularmente com palavras do texto seguinte de Pedro Passos Coelho. Na enorme distância que medeia entre a beleza do discurso e a sua real execução, eu desejo e considero um imperativo nacional, que tal aconteça:

“A minha experiência diz-me que a vida política precisa, cada vez mais, de pessoas que para ela transitem dos sectores produtivos, da vida empresarial, da ciência e da cultura, enriquecendo o debate e levando consigo as inquiteações que grande parte dos dirigentes políticos actuais ou não conhecem (por estarem afastados do mundo real), ou desejam esconder (porque nunca souberam lidar com elas), ou apenas não interessam (porque têm da política uma visão absolutamente lamentável, onde as pessoas reais não contam). O conhecimento da vida das empresas e das dificuldades da “vida civil”, o contacto próximo com os problemas da vida real (práticos, elementares, vísiveis, imediatos), pode constituir um valioso instrumento de análise e e definição das prioridades quando se está na política. Infelizmente, a vida dos partidos e a vida do Estado estão em grande parte percentagem inquinadas por uma geração de políticos profissionais cujos currículos se constituriam no interior dos aparelhos partidários e dos interesses que aproveitaram as brechas entretanto criadas no sistema. É urgente que se altere este panorama. Que mais “pessoas concretas” sejam chamadas a pronunciar-se sobre a política – e a fazer política. E a mudá-la”.
(MUDAR, Pedro Passos Coelho , Editora Quetzal, 2010, págs. 67,68)

domingo, 14 de março de 2010

E depois disto que virá?

Eis que terminou o congresso de Santana. Que ficou dele? Para já e mais evidente, a aprovação da "lei da rolha", que vai dar de comer aos mastins do PS durante os próximos dias. Era dispensável quando ainda por cima todos os putativos candidatos oficiais estão contra. Mas pronto, neste PPD/PSD, mais do que própriamente PSD, tudo é possivel, à imagem de Santana.
De resto mais nada a não ser o tempo de antena dedicado que cada candidato teve e a mostra que PPC tinha a claque bem amestrada. Não fosse aquele infeliz piscar de olhos a Alberto João e tudo lhe teria corrido benzinho. Os outros três candidatos lá cumpriram, sendo certo que Rangel esteve uns pontos acima de Aguiar Branco, antevendo que a disputa será entre Rangel e PPC. Pelo menos na Madeira Rangel já ganhou - viram como Alberto João se foi sentar ao seu lado depois das deprimentes pazes de PPC? - nunca pensei ver uma coisaa destas vinda de A.João -

Sinceramente nada me convenceu neste congresso. A julgar como Santana e mesmo Marcelo "manipularam" o Congresso parece-me que os candidatos a lider ainda têm muito que comer para que tenhamos alternativa quer no partido quer no paìs. Enquanto o PPD/PSD andar por ai não sei se teremos um PSD com rumo.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Eurosondagem

Enquanto no PSD abunda a mediocridade e a instabilidade, o sonho de Paulo Portas de se transformar o líder da direita em Portugal parece cada vez menos irrealizável. Depois queixemo-nos...

quinta-feira, 11 de março de 2010

Ainda Rangel e as elites

Caro Carlos,

É uma honra para o nosso blog (falo por mim, claro está) que partilhes connosco este teu post do Albergue Espanhol. O nosso humilde albergue, não sendo espanhol e não podendo sequer contar com as gajas semi-nuas de sexta-feira, está sempre aberto a toda a fruição que possamos obter com recurso aos prazeres do espírito, o que acontece sempre que te decides a pôr por escrito os teus pensamentos.

Admirando o estilo, não posso no entanto deixar de discordar da tese que defendes, em especial do seu ponto de partida, no qual te baseias para construíres a tua argumentação.

Afirmas que "A instalada elite do PSD entendeu fabricar um candidato".
Tenho alguma dificuldade em perceber quem serão as elites do PSD e, por maioria de razão, a tal "instalada elite". Devo dizer que o termo elite não tem, para mim, grande sentido e que prefiro mesmo não o utilizar neste contexto. Mas, admitindo que ela existe, gostaria de perceber a quem te referes.
Quem fará parte dela? Dias Loureiro, Marco António, Paulo Teixeira Pinto, Cavaco Silva, Morais Sarmento, Fernando Ruas, Diogo Vasconcelos, Mota Pinto, Mota Amaral, Miguel Relvas?
E, chegando a acordo sobre os seus nomes, quem apoia essa elite? Castanheira Barros, Passos Coelho, Aguiar Branco ou Paulo Rangel?

Creio que como deverás reconhecer se as elites apoiam em peso alguém, esse alguém é mesmo o Pedro Passos Coelho.

Quanto à segunda parte do teu texto, parece-me apenas que estás a menorizar Rangel e os seus apoiantes (entre os quais não me incluo). Mas isso...

Sorrisos amarelos *


A instalada elite do PSD entendeu fabricar um candidato. Contra a sua vontade, contra as suas promessas e exclusivamente contra um outro candidato que já se encontrava no terreno, lá apareceu Paulo Rangel.
O candidato daqueles que entendem o PSD como de sucessão dinástica tinha de apresentar uma série de características únicas: mostrar experiência, sem demonstrar como e onde; exibir a sua pequena vitória, mas distanciar-se das derrotas do partido; assumir-se como o estratega dos tempos mais recentes, mas romper com o ferreirismo.
Agigantaram Rangel, mas o registo ilógico que lhe impuseram devolveu-o à sua verdadeira dimensão. Finalmente, reconhecem tais elites que não têm um grande produto: uns querem agora atirá-lo ao Mar(celo), outros bastam-se com lançá-lo ao Rio.
Para desespero de Rangel, passaram a considerá-lo uma escolha de segunda, talvez mesmo de terceira. Para desespero das elites, vão ter de aguentar Rangel até ao fim e de aprender a viver sorridentemente com isso.

* Post publicado também aqui, no Albergue Espanhol

quarta-feira, 10 de março de 2010

Investimento português (lá fora ou cá dentro)

O que Portugal precisa... já parece um chavão de um Velho do Restelo! Recomeçando: Eis dois excelentes exemplos de investimento que deviam ser capitalizados pelo governo: Efacec investe no Iraque e IKEA investe 1,1 kM€ em Portugal. Lembro aqui a API do Dr Miguel Cadilhe que fomentava e facilitava este tipo de investimentos, mas que infelizmente foram rareando após a criação da "nova" API pelo actual governo, esta com os feitios menos bons de outras instituições, tipo IAPMEI, que se mostravam desinteressados nos investimentos pretendidos pelas empresas. Estranhamente os feitos da "nova" API foram desvanecendo rapidamente, preferindo o governo tocar sempre nas mesmas teclas do Aeroporto da Ota, TGV, Obras Públicas...

A CONSPIRAÇÃO CÓSMICA DOS FACTOS

"O líder do Partido Socialista (PS) acusou o BE de querer a eliminação dos benefícios fiscais e dos PPR, o que, para Sócrates, “conduziria a um aumento brutal da carga fiscal sobre a classe média”. Isto era o que dizia o Senhor Primeiro Ministro na campanha eleitoral. Passada essa mera formalidade que são as eleições e tendo uma vez mais a necessidade de voltar a trás com o prometido, a eliminação dos benefícios fiscais deixou de representar um tal aumento da carga fiscal e, quanto à brutalidade que uma tal medida representava, ela passou a consistir numa mera excepção, ainda que subdividida em várias outras.
Este quadro bipolar, onde uma coisa passa a ser o seu contrário sem justificação aparente e sem o decurso do necessário "período de nojo" resulta de uma espécie de conspiração cósmica dos factos contra o Senhor Primeiro Ministro. Ora, ninguém e país algum pode suportar a força de uma conspiração cósmica, pelo que nos resta apenas esperar que o Sr. Primeiro Ministro aceite sacrificar-se por nós.

Maturidade dos sociais democratas

As eleições directas são uma prova de fogo à união dos militantes do PSD.
Se os grupos, as rivalidades, os conflitos, as fracturas forem muito grandes, o PSD dificilmente voltará a ser um grande partido.
Será que existe nos militantes do PSD cultura democrática suficiente para aceitar diferentes posições relativamente à liderança? Tenho muitas dúvidas ....

O tempo permitirá concluir até que ponto as directas são fracturantes....depois pode sempre mudar-se a forma de escolha do líder....se não for demasiado tarde....

terça-feira, 9 de março de 2010

CASARÃO

Olhando para o PEC e para as notícias sobre o mesmo fica evidente que o governo, e demasiadas pessoas, imaginam que nada de substancial há que mudar no país, antes bastarão uns pequenos acertos e mexidas cirúgicas para se resolver o problema e atingirmos a glória. Lembrei-me então do Atilio, da telenovela Casarão, a mexer e a remexer na trampa que tinha depositado numa banheira convencido que se a mexesse bem a ía transformar em ouro... e como acabou esse episódio.

Aos aprendizes de feiticeiro

Numa altura em que a alternância é cada vez mais uma possibilidade é vital que os novos aprendizes de feiticeiro percebam que as mudanças que o país precisa não são apenas económicas mas também, ou mesmo sobretudo, na forma como se está e faz política. Situações como esta não eram aceitáveis então, não são aceitáveis agora ... e pede-se encarecidamente que não se repitam no futuro.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Carteiristas em funções de estado

Quando ouço o primeiro ministro a dizer que o PESC (Programa de Estabilidade Sem Crescimento) não pressupõe aumento de impostos e a seguir leio isto , mais isto, mais isto e mais isto, para não ser muito exaustivo, só consigo pensar nos carteiristas que com mãos de fada metem as mãos no bolso dos outros. Como estas acções ocorrem muitas vezes em locais de diversão, só falta dizer que o objectivo é que o dono não gaste dinheiro mal gasto!

O País num momento de Incertezas e de Surpresas

Alguns dados contribuem para que se possa afirmar o País está a entrar num período importante, talvez mesmo num período de significativas mudanças.

Vamos aos dados:
Os portugueses estão cansados do Partido Socialista e de José Socrates;
O PSD, única alternativa de Governo, terá nova liderança ainda este mês;
As contas do País e a pressão internacional obrigam Portugal a "grandes reformas económicas", pelo menos assim se espera...

Estes dados, a que facilmente se poderiam juntar muitos outros, criam as condições para a emergência de um período de mudanças e de incertezas.
Ora estes períodos são sempre propícios a surpresas... Essas podem acontecer onde e quando menos se espera...Na eleição do próximo líder do PSD, na Presidência da Républica... já não refiro o Governo, pois aí será tudo menos surpresa...

sábado, 6 de março de 2010

Mudar de Vida

Finalmente tive algum tempo para ler o “Mudar” de Pedro Passos Coelho.

Alguns aspectos do livro não me agradaram; entre os quais, a quantidade excessiva de generalidades ou o já repetitivo esforço posto por Passos Coelho em transmitir uma imagem de “homem culto”, de “humanista” ou de alguém com imensa experiência de vida – patente, por exemplo, no próprio estilo literário - que soam a falso. Mas como digo, trata-se de impressões e admito por isso, estar a ser injusto e não ser essa a sua intenção.

Mas, a verdade é que entre muita “palha”, encontram-se algumas ideias/propostas muito concretas e bastante positivas como, por exemplo, a possibilidade da introdução dos círculos uninominais, a possibilidade de candidaturas de grupos de cidadãos em eleições legislativas, o repensar as grandes obras públicas, o acabar com as leis cozinhadas nos gabinetes de assessores, a submissão a análise prévias e sucessivas de impacto económico, administrativo e social das leis mais importantes, entre muitas outras.

Parece-me que em relação ao tema da educação, Passos Coelho, fica um pouco pela rama; faz um diagnóstico mais ou menos correcto, explicita alguns princípios verdadeiros, mas evita ser muito concreto nas suas propostas.
E ao, dizer que “Não sou dos que partilham a ideia passadista de que o País está pior em, em matéria de educação. Não está. Portugal melhorou porque há muito mais gente que não tinha sequer contacto com estes saberes, e hoje tem. Mas quanto ao desempenho daqueles que estão dentro do sistema, esse desempenho não melhorou proporcionalmente ao investimento realizado.”

Ora, fica mal apelidar de passadista a visão dos que consideram que o ensino piorou; posso pensar que o ensino piorou e ter uma visão “futurista” ou “modernista”, o que aliás Passos Coelho tanto tenta ser. Por outro lado, refutar a hipotética perda de qualidade de educação com – apenas – o aumento do número dos que a ela têm acesso é claramente pouco consistente…

Em termos mais gerais, creio que a visão de Passos Coelho padece de um problema comum a praticamente todos os políticos (e à população em geral), que é o de acreditar que o estado dispõe de um poder reformador/influenciador superior ao real. Esta falácia nota-se especialmente no capítulo que o livro dedica à “Nova Competitividade” (só o nome já assusta… terá sido escrito com base nos twitts/máximas do Jaime Quesado?...). Já abordei esta questão aquando da apresentação dos programas eleitorais nas legislativas de Setembro passado e continuo a ser da mesma opinião.

É bem verdade que, caso seja eleito primeiro-ministro – hipótese que não me agrada em demasia, mas cada vez mais realista – Pedro Passos Coelho terá muita dificuldade (por limitações suas e outras do próprio sistema político, vejam-se os apoios que tem recolhido…) em pôr em prática todas as propostas que apresenta. Mas verdade seja dita, não têm fundamento as acusações que lhe são dirigidas no sentido de o seu livro não apresentar propostas concretas; poderiam ser mais, claro que poderiam (neste aspecto Marques Mendes no “Mudar de Vida”, vai mais longe), mas quanto mais propostas apresentasse, mais longe ficaria dos objectivos por si próprio traçados.
E, tendo em conta o nosso panorama político e o modo como os nossos políticos têm sido capazes de expor a sua visão para o país, este livro é do melhor que se tem feito em Portugal.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Nos por cá

“Algo está podre no Reino Unido e isso é tema de campanha.”
É este o título de uma notícia do Público a propósito da campanha para as legislativas de Maio nesse país.

Por lá ainda há quem tenha a coragem de assumir que nos encontramos perante uma sociedade com graves problemas estruturais; há também quem assuma que o estado detém um peso excessivamente elevado na sociedade. Ou seja, aquilo a que os ingleses já chamam de broken society. (recordo como fait-diver, a história de uma amiga dentista em Londres que administrava uma anestesia a uma criança inglesa de 6/7 anos à qual os pais, tentando explicar-lhe os efeitos da dita e, para lhe recordar alguma situação que lhe fosse familiar, lhe diziam “filho, não te preocupes que isso é mais ou menos como quando a tua mãe está bêbeda”; escusado será dizer que a partir daí a criança não mais se remexeu na cadeira :-) )

Há quem considere (neste caso, Cameron) que se deve apostar no casamento, através da concessão de benefícios fiscais. É verdade que o partido conservador ainda não percebeu bem o que “é” (ou era) o casamento e alargará (caso vença as eleições) os referidos apoios às uniões civis entre homossexuais.

Não deixa de ser curiosa a acusação de que são alvo os tories pelos seus críticos, atacando estes os seus argumentos pelo facto de serem “moralistas”. O que me causa ainda maior estranheza é a resposta dos tories, que se apressam a negar essa qualidade aos seus argumentos. Como se a moralidade devesse ser deixada de fora da política. Ignorava de todo tão ampla difusão da “pinamourista” doutrina da ética republicana…


Já por cá e, a propósito dos vigésimo aniversário do Público, fiquei a saber que nos últimos 20 anos a taxa de desemprego em Portugal subiu de 4,6% para 10,5% (and counting…), que o número de divórcios por 100 casamentos passou de 13 para 60, que as famílias de um só indivíduo passaram de 436.000 para 688.000 ou que a poupança bruta das famílias desceu de 19% para 7%. Em suma, tudo realidades que as sociólogas do Pública alegremente qualificariam de “importantes conquistas sociais”.

Todos estes dados são conhecidos dos políticos portugueses (espero…). Mas não merecem qualquer tipo de comentário.
Por cá (e refiro-me também cá por nossa casa, pelo PSD), há quem fale vagamente numa suposta ruptura que se consubstancia numa eventual regresso à reforma agrária ou numa confusão entre os vários níveis do estado e se recuse a privatizar canais de televisão que têm como única finalidade servir de propaganda ao governo.
Outros há, que (pelo menos hoje, já que no futuro veremos, no passado nem sempre foi assim) defendem privatizações de 40%, apostas do estado (por conta e em vez das empresas?) no Atlântico Sul e uma regionalização parcial do nosso país.
Em relação a outros, não sabemos ainda muito bem o que defendem para o partido e para o país.

Enfim, não sendo as perspectivas demasiado animadoras, esperemos alguns anos para ver se alguém terá a coragem de nomear e enfrentar os verdadeiros problemas do país. Mas lá que me causa alguma pena comparar o nível de discussão política entre o Reino unido e Portugal, lá isso causa. E não deve ser só a mim. Porque “algo está podre” e, bem ou mal, mais ou menos acertadamente, pelo menos no Reino Unido “isso é tema de campanha.”

Agora é que é!

Diz o semanário Sol que, depois do primeiro debate, o Paulo Rangel decidiu dispensar os consultores de imagem, prometendo "ser igual a si próprio" até ao final da campanha. Qualquer coisa do estilo "agora é que é a sério".
A notícia tem não só a infelicidade de constituir uma confissão expressa de derrota naquele primeiro debate, como ainda de dar a entender que terá sido preparada antes do segundo debate: a notícia não previu nem dá cobertura (como se tal fosse possível) à segunda derrota, clara, nos debates.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Produtos instantâneos

Diga-se o que se disser, o que a malta quer, no fundo, é políticos que não sejam políticos ou então políticos verdes, muito verdes. É por causa da contaminação. O problema deles e a sorte nossa é que uns não ganham eleições e os outros nem sequer sabem o que dizer nelas.
Na política, como em tudo o resto, desconfio de produtos instantâneos.

Rangel a ranger e Aguiar...branco

O debate de hoje demonstrou um PR pouco à vontade, sabendo que enfrentava um antes "compagnon de route". Mostrou algum nervosismo inicial e durante todo o debate alguma frouxidão argumental. Aliás, frente a Passos Coelho não esteve muito melhor. Comparativamente aos seus adversários tem-lhe faltado alguma "pose de estado" e ideias mais consistentes, denotando alguma imaturidade e impreparação não saindo muito da "lenga-lenga" da ruptura. Por seu lado, JP Aguiar Branco continua na sua habitual "brancura", sem grandes oscilações ou impetos argumentisticos. Na giria operática diz-se que um cantor tem a voz branca quando lhe falta profundidade e tecitura. A JPAB talvez lhe falte alguma profundidade em matéria daquilo que pensa para o partido e para o país e, ao mesmo tempo alguma consistência no discurso. Pelo que se viu até agora parece que PPC está no bom caminho....

quarta-feira, 3 de março de 2010

O candidato da micro-ruptura *


Paulo Rangel continua à procura do seu melhor registo: entrou com agressividade nesta corrida à liderança do PSD, mas, progressivamente e acompanhando os seus problemas de falta de memória, passou para um registo letárgico.

No debate de ontem, não compareceu, afinal, o inicial animal feroz, nem o subsequente português (demasiado) suave. Quer na forma quer no conteúdo, Rangel é, simplesmente, mais um deputado que apressadamente veio do frio.

Não questiono que Paulo Rangel entenda intitular-se como o candidato da ruptura. Mas, pelo que ontem assistimos, será certamente da "piquena" ruptura... talvez mesmo, da micro-ruptura.


* Também publicado no Albergue Espanhol

Leitura recomendada

Luis Rocha no Blasfémias:

"Independentemente do efeito televisivo, Rangel aparenta ser mais genuíno e tem toda uma força interior que cativa, a que muita gente adere de forma puramente emocional. É a força que faz os grandes líderes ou os grandes demagogos. Em PPC tudo é artificial, postiço, estudado ao milímetro para passar nos media. E é um facto que é aquele que tem melhor imprensa e não só a socretina.

Mas tudo isto pode interessar pouco ou nada, pois o perfil do eleitor tradicional do PSD tem pouco ou nada a ver com o do votante nas directas. Este vota maioritariamente por interesse e de acordo com as orientações do seu cacique. E, salvo alguma inflexão de Menezes, PPC leva vantagem, pois é claramente o candidato do aparelho."

Ou, como escreveu o João Miranda:

"Daqui a 5 anos estamos na mesma, ou pior."

E o melhor, talvez seja mesmo emigrar para o Atlântico Sul, o nosso novo eldorado.

Toda a gente fon fon fon

Vi só parte do debate de ontem, entre Pedro Passos Coelho e Paulo Rangel. Não vou tecer grandes comentários políticos mas há dois aspectos que me intrigam.
Os candidatos procuraram mostrar alguma familiaridade mas tratam-se sempre pelo nome completo! Já na semana passada o primeiro replicava constantemente "Oh Miguel Sousa Tavares!". Esta é alguma tendência social nova que me passou despercebida?
Segundo aspecto, esse mais preocupante, os candidatos preocuparam-se mais em colar o adversário a aspectos negativos do passado do que em apresentar ideias e propostas para o futuro. Como bem disse Passos Coelho (repararam que o nome não está completo!) não se ganham eleições com projectos negativos.
Resumiria o debate como "Toda a gente fon fon fon mas a tuba tem pouco romantismo". Mas nesse caso mais vale o original!

Vaga de fundo

O Paulo Rangel, a cada intervenção sua, torna mais longínqua a possibilidade que cheguei a imaginar de conseguir uma vaga de fundo que o levasse à vitória.
O debate de hoje acabou com uma vitória clara de Pedro Passos Coelho, o que reduz muito qualquer possibilidade que o Paulo Rangel pudesse ainda ter na corrida interna no PSD. Com efeito, foi o PPC quem marcou os ritmos do debate e quem demonstrou mais à vontade em quase todas as matérias. O PPC concretizou o que dizia, o que contrastou claramente com o PR e que fez colar este, ainda mais, ao tipo de registo da direcção cessante.
Perdido o debate para o seu mais directo rival, PR vai ter a dura tarefa de "aguentar" e de nos fazer "aguentar" um debate com alguém que lhe é, ou era, muito próximo a todos os títulos.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Quando o órgão dá lugar à organização *


Ontem teve lugar um magnífico almoço de twitters.
Mais de 130 compagnons desta route virtual, das mais diversas áreas de actividade e sensibilidades políticas, reuniram-se sob o pretexto de um leitão.
Falou-se de leitão e de robalos; de justiça e de escutas; de jornalismo e de pressões; e até de futebol … e de Figo.
Falou-se de crises: pouco das exógenas, muito das “endógenas”.

E não se falou do Governo!
Não se falou do Governo enquanto órgão que resolve os problemas, mas apenas enquanto organização que os cria.
O órgão, que (indirectamente) elegemos, deu lugar a uma organização estranha e problemática.

Foi disto que se falou no almoço de ontem.
De que andará a falar o resto do País?

* Post também publicado no Albergue Espanhol