sexta-feira, 19 de março de 2010

Um Grego, um Alemão, um Português e a Consciência da “Crise”...

Recentemente estive em família no coração da Europa, em Aachen, Alemanha, antiga Aix-la-Chapelle, onde Carlos Magno foi coroado. Por felizes circunstâncias familiares “adquiri” dois primos, um diplomata grego e um engenheiro alemão.

Em passeios pela neve abordamos o tema comum, a “crise”. O diplomata grego disse-me que na Grécia já se estava a sentir verdadeiramente a “crise” e já lhe tinham reduzido substancialmente o seu ordenado, na componente variável de ajudas de custo, ou seja, já “lhe tido ido ao bolso”... O engenheiro alemão, apesar de não sentir a “crise” tão directamente, já a antecipava, referindo que no seu orçamento familiar já estava prevista a redução de rendimentos em pelo menos 20%, controlando os custos e o endividamento futuro.

Entre o grego, que já sofre directamente a "crise", (e não estamos a falar apenas dos desempregados, mas de toda a população, onde se integram os “empregados”), e o alemão que já a antecipa, onde fica o português?

Será que a população portuguesa, governantes e governados, já tem consciência da dimensão da “crise”?

E se existe, a “crise” é conjuntural passageira ou estrutural?

O engenheiro alemão desenvolve, num dos centros de tecnologia automóvel da Alemanha, os modelos dos futuros automóveis, especialmente para o mercado chinês e indiano (incluindo o Tata Nano). O que me impressiona na consciência e pragmatimo dos alemães, é estes reconhecerem que estão a transmitir abertamente o know-how tecnológico à China e que será inevitável um “emagrecimento” dos seus rendimentos, para os quais já se estão a preparar. E concerteza que já estarão a planear cuidadosamente um novo "renascimento" alemão.

Ou seja, mais do que explicações conjunturais passageiras para se desculparem e esperarem passivamente a retoma (wishful thinking), os alemães já sabem que a "crise" mais importante é a estrutural, pela inexorabilidade da globalização.

O que me preocupa especialmente neste momento é se os nossos governantes e os governados têm consciência real da "crise" estrutural e estão preparados para tomar as duras medidas da reforma.

O primeiro passo da recuperação de um toxicodependente ou alcoólico é a ACEITAÇÃO da sua realidade. O segundo passo é a VONTADE de agir, mesmo que no início lhe seja muito difícil.

Onde há crise há esperança!

A globalização, mais do que uma ameaça, é uma enorme oportunidade.
Acredito que é nos momentos de maior crise, que se dão as maiores transformações.
Assim tem acontecido na história.
É nesses momentos que surge uma nova geração de líderes e a população se prepara para a mudança.*

* caso contrário "vamo-nos ver gregos”...

1 comentário:

  1. Já leu sobre Ciclos de Kondratieff e o momento do Ciclo em que nos encontramos?

    Sugiro a este propósito:
    http://www.howestreet.com/articles_as_pdf/2010Feb022246Winter%20V14%20I1.pdf

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