sexta-feira, 5 de março de 2010

Nos por cá

“Algo está podre no Reino Unido e isso é tema de campanha.”
É este o título de uma notícia do Público a propósito da campanha para as legislativas de Maio nesse país.

Por lá ainda há quem tenha a coragem de assumir que nos encontramos perante uma sociedade com graves problemas estruturais; há também quem assuma que o estado detém um peso excessivamente elevado na sociedade. Ou seja, aquilo a que os ingleses já chamam de broken society. (recordo como fait-diver, a história de uma amiga dentista em Londres que administrava uma anestesia a uma criança inglesa de 6/7 anos à qual os pais, tentando explicar-lhe os efeitos da dita e, para lhe recordar alguma situação que lhe fosse familiar, lhe diziam “filho, não te preocupes que isso é mais ou menos como quando a tua mãe está bêbeda”; escusado será dizer que a partir daí a criança não mais se remexeu na cadeira :-) )

Há quem considere (neste caso, Cameron) que se deve apostar no casamento, através da concessão de benefícios fiscais. É verdade que o partido conservador ainda não percebeu bem o que “é” (ou era) o casamento e alargará (caso vença as eleições) os referidos apoios às uniões civis entre homossexuais.

Não deixa de ser curiosa a acusação de que são alvo os tories pelos seus críticos, atacando estes os seus argumentos pelo facto de serem “moralistas”. O que me causa ainda maior estranheza é a resposta dos tories, que se apressam a negar essa qualidade aos seus argumentos. Como se a moralidade devesse ser deixada de fora da política. Ignorava de todo tão ampla difusão da “pinamourista” doutrina da ética republicana…


Já por cá e, a propósito dos vigésimo aniversário do Público, fiquei a saber que nos últimos 20 anos a taxa de desemprego em Portugal subiu de 4,6% para 10,5% (and counting…), que o número de divórcios por 100 casamentos passou de 13 para 60, que as famílias de um só indivíduo passaram de 436.000 para 688.000 ou que a poupança bruta das famílias desceu de 19% para 7%. Em suma, tudo realidades que as sociólogas do Pública alegremente qualificariam de “importantes conquistas sociais”.

Todos estes dados são conhecidos dos políticos portugueses (espero…). Mas não merecem qualquer tipo de comentário.
Por cá (e refiro-me também cá por nossa casa, pelo PSD), há quem fale vagamente numa suposta ruptura que se consubstancia numa eventual regresso à reforma agrária ou numa confusão entre os vários níveis do estado e se recuse a privatizar canais de televisão que têm como única finalidade servir de propaganda ao governo.
Outros há, que (pelo menos hoje, já que no futuro veremos, no passado nem sempre foi assim) defendem privatizações de 40%, apostas do estado (por conta e em vez das empresas?) no Atlântico Sul e uma regionalização parcial do nosso país.
Em relação a outros, não sabemos ainda muito bem o que defendem para o partido e para o país.

Enfim, não sendo as perspectivas demasiado animadoras, esperemos alguns anos para ver se alguém terá a coragem de nomear e enfrentar os verdadeiros problemas do país. Mas lá que me causa alguma pena comparar o nível de discussão política entre o Reino unido e Portugal, lá isso causa. E não deve ser só a mim. Porque “algo está podre” e, bem ou mal, mais ou menos acertadamente, pelo menos no Reino Unido “isso é tema de campanha.”

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