quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Só o fingimento pode salvar o Estado de Direito *


Uma das teses mais divertidas que por aí circula, defendida por exemplo pelo Pedro Marques Lopes, é que, dado que as escutas são nulas e foram conhecidas via violação do segredo de justiça, vamos todos ter que fingir que não elas não existem.

Vamos fingir que não sabemos que há autoridades judiciais que acham que determinadas conversas do primeiro-ministro podem ser criminalmente relevantes. Vamos fingir que não sabemos que um primeiro-ministro, que já era suspeito de interferir na comunicação social, falou com o vice-presidente de um banco nominalmente privado sobre como ajudar um grupo de comunicação social aliado do governo. Vamos fingir que não ouvimos dizer que Vara e Sócrates discutiram o negócio da TVI.

Para que o fingimento seja credível seremos forçados a fingir que não sabemos que o tal banco nominalmente privado foi tomado por quadros ligados ao Partido Socialista com a ajuda da Caixa Geral de Depósitos. E devemos fingir que o primeiro-ministro não mentiu ao Parlamento sobre o negócio da TVI. No fundo teremos que fingir que José Sócrates não usa o poder de primeiro-ministro para defender os interesses políticos do Partido Socialista e os interesses económicos dos grupos empresariais seus aliados.

* João Miranda no Blasfémias

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