Nos primórdios – naquele, quase bíblico, tempo –, o nome de José Sócrates era proveitosamente apregoado pelos vendilhões e louvado pela demais plebe. Servia de cartão de apresentação a familiares e amigos, colhia elogios e glórias de jornalistas e colunistas, traduzia-se em airosos números do INE e do Banco de Portugal e recolhia votos junto dos eleitores.
Não é necessário espreitar pela fechadura da porta, já escancarada, para constatar que aqueles tempos de bonomia foram progressivamente findando para o Primeiro-Ministro.
Descobriu-se que o seu círculo restrito, mais do que um cartão-de-visita, encontrou em José Sócrates um ilimitado cartão de crédito. Diagnosticou-se a miopia da “super-visão” e a condescendência das estatísticas. Confirmou-se que a autêntica “alma jornalística” não se vende nem se intimida. E atestou-se que os eleitores – esses que, periodicamente, recordam que Portugal é uma democracia – entenderam que Sócrates devia ser sujeito a permanentes “medidas de vigilância” parlamentar.
Os últimos meses têm sido ainda mais pródigos em “acontecimentos”. Puramente políticos, que não aparentemente judiciais. A cada suspeita um novo escândalo. A cada escândalo um novo epíteto. Bem ou mal, o Eng. Sócrates perdeu o bom nome – e as associadas respeitabilidade e credibilidade – que em tempos teve e que, já fora do tempo, impôs ostentar.
Perdido o bom nome, resta-lhe o rótulo de Primeiro-Ministro. O que pode parecer muito a José Sócrates, mas é afinal muito pouco, até e sobretudo, a um Primeiro-Ministro.
* Agradeço ao Instituto Francisco Sá Carneiro a publicação deste artigo [ aqui ]. Apesar de escrito há cerca de duas semanas, diariamente parece renovar a sua actualidade.
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