quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Recados ao partido da oposição



Após a comunicação de ontem à noite, proferida por sua Excelência o Presidente da República, o Professor Doutro Cavaco Silva, somos levados a reconhecer que o moço de recados se arrisca a perder o emprego por extinção do posto de trabalho...

Muitas têm sido a vozes que se têm levantado contra o conteúdo da mensagem proferida pelo Presidente: que não esclareceu as dúvidas dos portugueses, que não respondeu a perguntas dos jornalistas, que deixa dúvidas no ar, que se contradisse, que bebeu um copo de água a meio do discurso, etc, etc.

Gostaria de fazer dois comentários em relação a estas acusações.

Em primeiro lugar e, ao contrário do que os mais ingénuos possam pensar, Cavaco Silva não falou para os portugueses nem para os jornalistas: falou quase exclusivamente para o PS. Com maior ou menor sucesso, tentou passar a mensagem de que não se deixa vencer facilmente e que o combate está a meio, ainda que desta vez tenha sido ele a ir ao tapete. Falou ainda para o PSD, tentando dizer que não é ele o principal responsável pela derrota nas legislativas como alguns opinam. Não sei se foi ou não, mas penso que este discurso e, tendo em conta as acusações feitas a José Sócrates, deveria ter sido feito durante a campanha eleitoral. Ou será que os portugueses só têm direito a saber que estão a ser manipulados pelo primeiro-ministro depois de o voltarem a eleger?

Em segundo e, para os que se queixam de Cavaco não ter esclarecido o que era necessário esclarecer, concordo com a queixa mas não com a surpresa. Se Cavaco fosse transparente, se manifestasse em público tudo o que pensa, provavelmente não seria Presidente (lembro a constante recusa de Cavaco, durante a campanha presidencial, em responder à questão da eventual promulgação de uma lei que liberalizasse o aborto).
Se imperasse a lógica do esclarecimento, José Sócrates nunca teria sido primeiro-ministro e, muito menos, reeleito. Entendo que muitos sofrem de memória selectiva pois não demonstram tal estupefacção quando assistem aos debates/comícios quinzenais de José Sócrates na Assembleia da República. Nem sequer se lembram dos debates televisivos de há escassas semanas ou das entrevistas aos órgãos de comunicação social (por exemplo a dada a Maria Flor Pedroso).

Consta que havia entre os candidatos a primeiro-ministro uma senhora que respondia ao que lhe perguntavam, que dizia o que pensava e que ousava dizer a verdade. Consta também que foi a única que foi enxovalhada em plena praça pública com a ajuda dos “cães” do costume. São os mesmos que vêm agora acusar Cavaco de não ter esclarecido tudo o que havia por esclarecer. Mas escolhemos o circo e é circo que vamos ter.


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