A propósito de leis de memória histórica, campanhas políticas, políticas de verdade, estudos da OCDE, 150.000 empregos, PTs e TVIs, etc, publico um pequeno excerto de um artigo de Alfredo Cruz, na Nuestro Tiempo de Maio/Junho 2009
“O perigo que corre quem afirme tais coisas não consiste em que as suas informações possam ser discutidas, nem sequer que após essa discussão acabem por ser refutadas.
O perigo está em que nem sequer se admite começar a discuti-las. E não admitir a discussão implica não admitir, de antemão, que algo se venha a descobrir como verdadeiro. Por outras palavras, significa ter feito da questão da diferença entre o verdadeiro e o falso, uma questão posterior e dependente da posição adoptada pela nossa vontade. Quando, de nenhum modo, queremos que a realidade seja outra do que aquela que nos agrada, não damos à razão a menor oportunidade de nos contradizer.
A mera afirmação de determinadas coisas, a simples proposta de abrir o debate sobre alguns lugares comuns, é um delito que acarreta para quem o comete a mais completa e unânime desclassificação. A ousadia de introduzir certas ideias no discurso público, só se responde com denegrições e gestos de “afectada” indignação, que não têm outro objectivo que não seja o de atemorizar e dissuadir a potenciais insurrectos. Porque o poder que, acima de tudo, aspira a perpetuar-se, sabe perfeitamente que é um perigoso desafio à sua possível permanência que seja forçada a entrar na questão de que se aquilo ao qual apela, aquilo no qual fundamenta as suas decisões, é verdade ou não, é real ou fictício.
(…)
Não é que o poder crie a verdade -como pretende o Partido no romance de Orwell-, mas sim que pode desinteressar-se desta tarefa totalitária porque, simplesmente, o facto de que algo seja verdadeiro ou falso perdeu todo o interesse, o que abre uma via mais cómoda rumo ao totalitarismo.
“Quem controla o passado, controla o futuro”, diz-nos o slogan do Partido. Esta é a forma de despotismo que mais aterroriza o protagonista. “Se o Partido pode chegar com a sua mão até ao passado e dizer que este ou aquele acontecimento nunca teria acontecido, isso seria mais horrível do que a tortura ou a morte.” Talvez poucas coisas se possam considerar mais actuais do que esta. O que diria Orwell acerca de um poder, supostamente democrático, que se arroga a função de estabelecer por lei a verdade sobre o passado? Que podemos temer quando assistimos ao combate tenaz por controlar o passado, por parte de ideologias políticas às quais, no fundo e enquanto tais, só lhes pode interessar o futuro? O que controla o passado controla o futuro…”
* O autor faz uma referência bastante clara à Lei de Memória História recentemente aprovada em Espanha. A propósito deste tema ler isto.
“O perigo que corre quem afirme tais coisas não consiste em que as suas informações possam ser discutidas, nem sequer que após essa discussão acabem por ser refutadas.
O perigo está em que nem sequer se admite começar a discuti-las. E não admitir a discussão implica não admitir, de antemão, que algo se venha a descobrir como verdadeiro. Por outras palavras, significa ter feito da questão da diferença entre o verdadeiro e o falso, uma questão posterior e dependente da posição adoptada pela nossa vontade. Quando, de nenhum modo, queremos que a realidade seja outra do que aquela que nos agrada, não damos à razão a menor oportunidade de nos contradizer.
A mera afirmação de determinadas coisas, a simples proposta de abrir o debate sobre alguns lugares comuns, é um delito que acarreta para quem o comete a mais completa e unânime desclassificação. A ousadia de introduzir certas ideias no discurso público, só se responde com denegrições e gestos de “afectada” indignação, que não têm outro objectivo que não seja o de atemorizar e dissuadir a potenciais insurrectos. Porque o poder que, acima de tudo, aspira a perpetuar-se, sabe perfeitamente que é um perigoso desafio à sua possível permanência que seja forçada a entrar na questão de que se aquilo ao qual apela, aquilo no qual fundamenta as suas decisões, é verdade ou não, é real ou fictício.
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Não é que o poder crie a verdade -como pretende o Partido no romance de Orwell-, mas sim que pode desinteressar-se desta tarefa totalitária porque, simplesmente, o facto de que algo seja verdadeiro ou falso perdeu todo o interesse, o que abre uma via mais cómoda rumo ao totalitarismo.
“Quem controla o passado, controla o futuro”, diz-nos o slogan do Partido. Esta é a forma de despotismo que mais aterroriza o protagonista. “Se o Partido pode chegar com a sua mão até ao passado e dizer que este ou aquele acontecimento nunca teria acontecido, isso seria mais horrível do que a tortura ou a morte.” Talvez poucas coisas se possam considerar mais actuais do que esta. O que diria Orwell acerca de um poder, supostamente democrático, que se arroga a função de estabelecer por lei a verdade sobre o passado? Que podemos temer quando assistimos ao combate tenaz por controlar o passado, por parte de ideologias políticas às quais, no fundo e enquanto tais, só lhes pode interessar o futuro? O que controla o passado controla o futuro…”
* O autor faz uma referência bastante clara à Lei de Memória História recentemente aprovada em Espanha. A propósito deste tema ler isto.
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