segunda-feira, 9 de março de 2009

Obama: um presidente “excedentário”?

Como é sabido, Obama levantou o embargo imposto em 2001 por George W. Bush em nome da "promoção da cultura da vida", que impedia o recurso a embriões “excedentários” disponíveis em clínicas de fertilidade em experiências científicas. Segundo a imprensa, a comunidade científica americana (desconhecia o facto de a comunidade em questão ter nomeado um porta-voz...), recebeu com entusiasmo a notícia, que aliás fazia parte do pacote de mudanças prometido por Obama durante a sua campanha eleitoral.
Grande medida a favor do progresso científico! Será mesmo?

Não me vou alongar neste texto acerca das fantásticas perspectivas que se abrem à investigação científica, em particular para a medicina regeneradora, mas sim da necessidade ou não de utilizar embriões “excedentários” neste tipo de investigação (que necessariamente obriga à “destruição” de ditos embriões, leia-se á morte de seres humanos nos primeiros dias do seu desenvolvimento). Se não são seres humanos, o que são? Se há dúvidas (para quem as quiser ter), há que actuar então com prudência e não pôr em risco essa mesma “hipótese” de ser humano. Com dizia há dias um conhecido meu, se algum de nós, conduzindo o seu automóvel se deparar à sua frente com algo que não sabe bem o que é, se um moribundo coberto por uma manta, se apenas um monte de trapos, com certeza que não lhe passará por cima e, se tiver um pingo de humanidade parará de forma a saber se algum modo pode ajudar!

Sem dúvida paradoxal a sociedade em que vivemos, que se manifesta contra as touradas ou os abusos aos ratinhos utilizados em experiências científicas e, que ao mesmo tempo, apelida embriões humanos de excedentários!

Perguntará o leitor: mas você despreza então, todos os potenciais benefícios, as vidas que se salvarão com base na investigação com recurso a células estaminais? A resposta é obviamente não!
As fontes de células estaminais, até agora individuadas, são:
1 o embrião nas fases iniciais do seu desenvolvimento
2 o feto
3 o sangue do cordão umbilical
4. vários tecidos do adulto (a medula óssea, o cordão umbilical, o cérebro, o mesenquima de vários órgãos, etc.) e
5 o líquido amniótico.

Em primeiro lugar e, como se pode verificar, não é obrigatório o recurso a embriões.
Em segundo lugar e, não menos importante, o recurso a terapias com base em células-mãe fetais envolve um maior risco do que as terapias com recurso a células estaminais retiradas, por exemplo, do sangue do cordão umbilical. De acordo com a The Coalition of Americans for Research Ethics (será que de acordo com o critério dos media faz parte da comunidade científica americana?...), as células estaminais adultas tem já um track-record de experiências bem sucedidas na cura de doenças como leucemia e cancros relacionados com problemas ósseos e sanguíneos.

Depois de disparates como, um plano de recuperação económica irracional ou os disparates no protocolo na recepção a Gordon Brown, é caso para afirmar Obama é quem se está a revelar o verdadeiro excedentário.


Para mais informação acerca de células estaminais:
1. http://article.nationalreview.com/?q=ZjliNTUwNjgzNmE1OWU3MTg1OGE3ZjE5ZjM5YzEwNjc
2. http://www.nature.com/stemcells/2007/0710/071011/full/stemcells.2007.100.html
3. http://www.sciencedaily.com/releases/2009/02/090217212253.htm

4 comentários:

  1. O tema é, sem dúvida, fracturante!
    Mas o Grupo também não busca unanimismos... deixemos isso aos (alguns)Partidos...

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  2. Carlos,
    de facto, é necessário ter em conta essa premissa: a opinião expressa neste blog não vincula de modo algum o Grupo. Aliás, se isso acontecesse, não teria escrito o texto.

    Em relação ao tema em si, é de facto, fracturante, embora me custe um pouco a perceber porquê! Percebo que temas como o aborto ou a eutanásia (sobre os quais tenho a minha opinião) sejam fracturantes. É sempre difícil perceber o que deve fazer uma miúda de 9 anos grávida de gémeos, abusada pelo próprio pai e que corre algum risco de vida na hipótese de dar à luz; compreende-se que surjam dúvidas acerca da melhor opção a tomar.
    Mas já não compreendo que surjam tantas dúvidas, principalmente em homens com uma inteligência bastante superior ao comum dos mortais (como é o caso de Obama), em relação à investigação com base em embriões congelados que implica necessariamente a sua destruição! Se existem alternativas eticamente inquestionáveis e com maior evidência de sucesso, porquê insistir nos embriões? Só se fôr para despachar os milhares de embriões congelados que estão em alguns gabinetes por esse mundo fora e que ninguém sabe o que fazer com eles! É isto a que já vários apelidam de "cultura de morte", que se respira na nossa sociedade...

    Um abraço!

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  3. Caro João,
    Só de um conjunto de opiniões, ora convergentes ora divergentes, poderá nascer a reflexão. E rendo-me constantemente ao conteúdo dos teus posts, pelo estilo e pela sustentação.
    Admito ter algumas dúvidas em relação à investigação com base em embriões...
    Tal como confesso não ter a menor dúvida em relação à opção da miúda brasileira abusada pelo pai - e, apesar de convictamente católico, não consigo aceitar a pública posição da Igreja.
    Por isso, mais importante do que um Grupo de "uma nota só" - tal como "alegremente" um recente Congresso partidário foi apodado - será termos um Grupo que preeencha toda a "pauta musical" e, que apesar disso, esteja em harmonia - como, inquestionavelmente, estamos.
    Um forte abraço!

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  4. Carlos, é de facto um previlégio poder fazer parte dum Grupo com a qualidade (não falo por mim, como é obvio) das pessoas que o compõem!

    Em relação à questão da miúda brasileira, espero amanhá quando estiver sentado na sala de espera do dentista, ter tempo para escrever umas linhas sobre essa questão.
    Um abraço!

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