quinta-feira, 23 de julho de 2009

Da série "Negócios à portuguesa": Aquisição da VEM pela TAP

Depois deste e deste negócios, ficámos hoje a saber que a TAP (através da sua filial VEM) irá prestar serviços à Força Aérea brasileira para poder pagar cerca de 40% de uma dívida de 89 milhões de euros ao fisco, dívida esta assumida aquando da aquisição de parte do capital da VEM em 2006.

Em Abril, durante a apresentação de resultados de 2008, Fernando Pinto afirmou: "A compra da VEM será um dos investimentos de que o grupo TAP irá se orgulhar no futuro". Num futuro longínquo, diria...

Tratou-se de um negócio sem dúvida curioso.

Vejamos:

No final de 2005, 80% da carteira de encomendas da empresa de manutenção estava concentrada na Varig.

No início de 2006 e, segundo Jorge Sobral (administrador da TAPM&E), a ideia era "criar uma organização comum com uma imagem única"; os negócios da VEM e da TAP eram "complementares";

Algum tempo depois, os planos eram outros e a ideia já seria a venda: no Relatório e Contas de 2007, a VEM não consolidava nas contas da TAP, dado que já se tratava de um investimento destinado à alienação. O prejuízo foi de 36,3 milhões de euros.

Em 2008, no entanto, o objectivo já não seria a venda e os resultados da VEM já foram consolidados. Segundo o R&C de 2007, os frutos do esforço de re-estruturação só se iriam sentir a partir de 2008. Not so quickly, my friend. Em 2008, mais uma vez prejuízo, desta vez de cerca de 30 milhões de euros.

Mas não há motivo para preocupações, já que a TAP prevê para 2009 lucros de 1,3 milhões de euros nesta sua filial brasileira!
Confesso que não sei até que ponto devo confiar nas previsões da TAP.

Fazendo algumas contas rápidas temos:
1. Dívidas (apenas ao fisco brasileiro) assumidas no momento aquisição: 148 milhões
2. Prejuízos de 2006: 160 milhões*13,5% = 21,6 milhões (no final de 2006 a TAP detinha apenas 13,5% do capital da VEM)
3. Prejuízos de 2007: 36 milhões
4. Prejuízos de 2008: 30 milhões
5. Exercído da opção de compra de 85% do capital da Reaching Force (detentora indirectamente de 90% do capital da VEM): 3 milhões
6. Prestações suplementares/Aumento de capital da VEM em 2007: 24 milhões
7. Empréstimos concedidos à Reaching Force: 16 milhões

O total dá-nos qualquer coisa como 160 milhões de euros. Não estou a ter em conta os activos no final de 2006 os quais, no caso de serem maiores do que os passivos (excluindo a dívida ao fisco já incluídas acima), contribuiram para diminuir o montante até agora "empatado" na VEM.

Como não poderia deixar de ser, Mário Lino esteve metido ao barulho e afirmou em Janeiro de 2006, a VEM é só por si "uma empresa interessante para a TAP".
Ah bom! Se é "por si só" então é outra conversa!

Algumas das interrogações dos brasileiros acerca deste e doutros negócios da TAP com a VARIG aqui.

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