segunda-feira, 6 de julho de 2009

Política de mentira.

Como todas as mais recentes decisões do Partido Socialista, a de impedir a dupla candidatura às eleições autárquicas e legislativas, soa a falso. Soa a pura manobra política, na pior acepção da expressão. Não admira pois, que o partido se encontre extremamente dividido.

Se repararmos bem, as manobras socialistas nunca têm a sua origem em convicções ou no reconhecimento de erros "substanciais", mas estão sempre relacionadas com a forma, a imagem , o impacto na opinião pública e nas hipotéticas intenções de voto.

Foi assim com a PT. Depois da anedota que Sócrates contou aos portugueses de que não estava informado acerca da operação de aquisição de 30% da Media Capital (e do reconhecimento implícito da preocupação com a linha editorial seguida pela TVI), veio a justificação para a proibição da operação: "o governo não quer que haja a mínima suspeita". Ou seja, o que está em causa não é o interesse público, mas sim a imagem do governo!

O mesmo se passou com Pinho; o que esteve em causa não foi o seu desempenho desastroso à frente do Ministério da Economia (por vezes o ministro dava-se ao trabalho de "safar" (sic) uns quantos empregos), mas sim a sua imagem e a do governo.

Já para não falar do momento de comoção que Sócrates provocou no país com a sua patética entrevista a Ana Lourenço.

E o mesmo acontece agora com esta proibição de duplas candidaturas.

Algumas questões afloram à nossa mente a propósito de mais esta hipocrisia política:

- O que há de substancialmente diferente entre as europeias e legislativas que justifique a diferença de critério? A esta pergunta João Tiago Silveira, entretido a colar etiquetas no símbolo do PSD que tem no seu quarto, não responde.

- Se Ana Gomes e Elisa Ferreira não tivessem já garantido o seu tacho em Bruxelas, a decisão seria a mesma? Como reagiria Ana Gomes? Imagino que do mesmo modo que Leonor Coutinho que sabe agora, a meio do "jogo", que vai ficar sem o lugar no Parlamento e perder a Câmara de Cascais para Capucho...mas claro Leonor Coutinho não tem o mesmo peso de Ana Gomes...(e nem que sequer produz o mesmo sound-bite)

- como pode Elisa Ferreira afirmar que sente o apoio "suficiente" do PS à sua candidatura à Câmara Municipal do Porto? Suficiente? Não será com certeza suficiente para evitar uma derrota histórica do PS no Porto...ou mesmo para não ter de ouvir declarações das do género de Pedro Baptista, dirigente do PS/Porto, que diz que se trata da "vitória dos princípios. Esperemos que no Porto estas directivas sejam cumpridas".

Enfim, uma série de questões às quais o PS, apelará à Blue State Digital para que lhes dê resposta...

10 comentários:

  1. Os partidos "tendem" a reflectir a opinião dos seus militantes, mesmo fora de congressos. Não acontece o mesmo noutros partidos?

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  2. David, obrigado pelo comentário.

    O que diz é verdade. Dúvido é que esteja relacionado com a tomada de posição do PS. Será que a posição dos seus militantes mudou tanto desde 7 de Junho? E se tivesse mudado por que razões teria sido? Por puro "escrúpulo democrático" ao estilo do querido líder? Não me parece.

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  3. Infelizmente "algumas" pessoas ("notáveis" ou não) apenas expressam as suas opiniões quando se sentem mais confortáveis. Outras, por muito que as expressem, terão dificuldades em ser ouvidas se o receptor estiver noutra "onda". Não acontece o mesmo noutros partidos?

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  4. David, sem dúvida que acontece em todos. Mas isso não invalida a "tese" que defendo no meu texto, que é a de que no PS não há por parte dos seus líderes autenticidade e todas as medidas tomadas são derivadas do mero cálculo político.

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  5. Nem invalida a contra-tese baseada no pensamento contrário. Nem que nos outros partidos isso também aconteça, ou nesses casos já não é "mero cálculo político" e é apenas combate político?

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  6. Umas vezes é outras não é.
    Mas neste caso nem se trata da minha opinião. Os próprios dirigentes socialisatas admitem, em alguns dos casos que se trata apenas de uma questão de imagem! Quem sou eu para o negar? :)

    E quando eles não o dizem, só me resta interpretar a sua actuação com os dados que possuo do passado, o que no caso de Sócrates e companhia não deixa margem para dúvidas.

    Quanto aos casos em que é "cálculo" político (na acepção negativa que a expressão pode encerrar) ou combate político, isso é outra história.
    Estou convencido que no PSD actual, a actuação á acompanhada pela convicção.

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  7. JPN:"Estou convencido que no PSD actual, a actuação á acompanhada pela convicção."

    Pergunto eu: mesmo nos casos de "colagem" entre posições do PR e do PSD? Para que não se pense que generalizo vou exemplificar: actuação PSD acerca da Lei do Financiamento dos Partidos...

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  8. David,

    Como compreenderá não tenho tempo para comentar todas e cada uma das tomadas de posição do PSD, partido com o qual simpatizo, mas muitas vezes não concordo.

    Em relação ao exemplo que deu, é precisamente um exemplo de não colagem do PR ao PSD e vice-versa!
    Se o PR vetou uma lei aprovada pelo PSD, como pode isso ser dado como exemplo da tal colagem???

    Quanto ao recuo do PSD, ele existiu como existiu dos outros partidos (à excepção do PCP)

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  9. João,

    Apenas citei um exemplo em que o PSD reagiu, após os "coros do país" e posteriormente do veto do PR, tentando desdizer o sentido de votação e em que a actuação não acompanhou a convicção.

    Quanto à questão do tempo é mútuo meu caro.

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  10. David,

    em relação a esse tema, muito antes de ele ser vetado pelo PR, escrevi o seguinte aqui no blog, criticando a posição do PSD e fazendo votos de que o PR vetasse o diploma:

    http://grupo-da-boavista.blogspot.com/2009/05/elas-sabem-que-nos-sabemos-que-elas.html

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