Como todas as mais recentes decisões do Partido Socialista, a de impedir a dupla candidatura às eleições autárquicas e legislativas, soa a falso. Soa a pura manobra política, na pior acepção da expressão. Não admira pois, que o partido se encontre
extremamente dividido.
Se repararmos bem, as manobras socialistas nunca têm a sua origem em convicções ou no reconhecimento de erros "substanciais", mas estão sempre relacionadas com a forma, a imagem , o impacto na opinião pública e nas hipotéticas intenções de voto.
Foi assim com a PT. Depois da anedota que Sócrates contou aos portugueses de que não estava informado acerca da operação de aquisição de 30% da Media Capital (e do reconhecimento implícito da preocupação com a linha editorial seguida pela TVI), veio a justificação para a proibição da operação: "o governo não quer que haja a
mínima suspeita". Ou seja, o que está em causa não é o interesse público, mas sim a imagem do governo!
O mesmo se passou com Pinho; o que esteve em causa não foi o seu desempenho desastroso à frente do Ministério da Economia (por vezes o ministro dava-se ao trabalho de "safar" (sic) uns quantos empregos), mas sim a sua imagem e a do governo.
Já para não falar do momento de comoção que Sócrates provocou no país com a sua patética entrevista a Ana Lourenço.
E o mesmo acontece agora com esta proibição de duplas candidaturas.
Algumas questões afloram à nossa mente a propósito de mais esta hipocrisia política:
- O que há de substancialmente diferente entre as europeias e legislativas que justifique a diferença de critério? A esta pergunta João Tiago Silveira, entretido a
colar etiquetas no símbolo do PSD que tem no seu quarto, não responde.
- Se Ana Gomes e Elisa Ferreira não tivessem já garantido o seu tacho em Bruxelas, a decisão seria a mesma? Como reagiria Ana Gomes? Imagino que do mesmo modo que
Leonor Coutinho que sabe agora, a meio do "jogo", que vai ficar sem o lugar no Parlamento e perder a Câmara de Cascais para Capucho...mas claro Leonor Coutinho não tem o mesmo peso de Ana Gomes...(e nem que sequer produz o mesmo
sound-bite)
- como pode Elisa Ferreira afirmar que sente o apoio
"suficiente" do PS à sua candidatura à Câmara Municipal do Porto? Suficiente? Não será com certeza suficiente para evitar uma derrota histórica do PS no Porto...ou mesmo para não ter de ouvir declarações das do género de Pedro Baptista, dirigente do PS/Porto, que diz que se trata da "vitória dos princípios. Esperemos que no Porto estas directivas sejam cumpridas".
Enfim, uma série de questões às quais o PS, apelará à Blue State Digital para que lhes dê resposta...